quinta-feira, 15 de maio de 2014

Olhos de Cascata

Olhos de cascata, derramam emoções,
Derramam pensamentos, derramam aflições
Escorrem sutilmente algumas gotas de tristeza
Qual mistério será que esconde essa mansa correnteza?
O que guardam em segredo esses olhos de cascata 
Que não cabe, que deságua, enquanto a pupila dilata
Deságua com calma, estremece a visão, 
Derramam águas salgadas nativas do coração
Pela face vai descendo, escorrendo devagarzinho
Olhos de cascata, desaguam abaixo um riachinho

Olhos de cachoeira, carregados não sei de quê
De alegria ou de tristeza, tem um segredo a esconder
No fundo do olhar, um mistério se revela
O fluxo aumenta, o coração acelera
Quanta água sai desses olhos de cachoeira
Cílios, a mata ciliar, o rosto uma ribanceira
Algo quer expressar a água que sai de dentro
Ódio, angústia, alegria, dor, amor, sofrimento
Seja lá o que for, para o mundo o olho joga
Olhos de cachoeira, cachoeira que desafoga

Olhos de catarata, catarata do amor
Águas de alegria do interior para o exterior
Encharcando tudo em volta, molhando felicidade
Doces águas salgadas, expelidas pela verdade
Permanece ainda o mistério do desaguamento
Por que vem, pra onde vai o fluído de sentimento
O que é, o que faz, o que trazem esses olhos de catarata
Mais firmes que de cachoeira, mais fortes que de cascata
Purificando o sentimento, limpando a caminhada
Olhos de catarata, deixando a alma lavada.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Sexto tempo

Cansados, com sono, esfomeados, agoniados esperando o sino que não bate... O ponteiro lentamente anda. Agitados falam, gritam, batem nas mesas com cadernos, fazem aquela algazarra. Mas nada adianta: o relógio, sereno, com sua ternura e nobreza mantém o mesmo andamento. O mesmo que manteria caso não lhe dessem atenção, o mesmo de antes das viagens e dos encontros amorosos.

A professora, cercada d'outros alunos pacientemente tira dúvidas dos interessados, que em panelinha apresentam feições de preocupação e confusão enquanto dividem seus olhares na matéria e nos ponteiros do relógio, torcendo para que consigam entender o conteúdo antes que o sinal bata; temendo que o tempo passe rápido demais. Concentrados, esquecem toda a situação que os rodeiam.

O que mais se ouve falar é: "Que horas são?" Vem de todos os lados da sala, em diversas vozes, timbres e tons. Os que têm relógio em silêncio verificam a hora a cada minuto, como se fosse obrigação. Passam-se alguns minutos e as reclamações só tendem a aumentar: É fome, sono, cólica, dor de cabeça, cansaço, espinha, professor chato e qualquer outro motivo de reclamação que possa ser lembrado e claro, falado naquele momento.

Materiais guardados, a sala se divide em ainda mais panelinhas: Tem os que falam de jogos, os que falam de academia, os que falam de sexo, os que falam de show, os que falam de bebida, os que falam da festa, os que falam de automóveis... E claro, mantém-se formada a panelinha dos preocupados em volta do professor, agoniados com o tempo, fazendo anotações como se lhes fossem cortar aos mãos ao bater do sino. A inspetora no pátio tranquilamente bebe café e conversa com as tias da limpeza, olhando atentamente para o relógio; precisa ser pontual.

O sino toca. Uma expressão de alegria surge por fração de segundo nos rostos de todos, que imediatamente disputam espaço para passar pela porta da sala, conversando altíssimo, alguns até gritando. Os que estavam com a professora guardam o material, ainda conversando com ela sobre a matéria. A competição para atravessar o portão da escola é ainda maior que a da porta, a maioria à pé, alguns de bicicleta... Do outro lado, carros, mais barulhos, muvuca e o sol quente do meio dia. A maioria das reclamações cessam e aos poucos as pessoas vão sumindo.

O capítulo se repete todos os dias, em todas as aulas e as pessoas fazem sempre as mesmas coisas, sofrem as mesmas agonias nos últimos minutos de aula... Parece ser algo que passa despercebido, simplesmente visto como normal. Mas por quê, por quê vivemos tal agonia? O sino bate, mas nada acaba: A rotina continua e tudo que está contido nesse texto e pode ser resumido na palavra "ansiedade" permanece todo santo dia útil. Mas não é possível que seja útil dar atenção para isso.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Aprender a aprender?

Aprender, aprender, aprender... Será que é estar a prender conhecimento, ou prender-se à ideias adquiridas? Ou então prendê-las em si? Quem sabe, prender aquilo que nos é prendado pelo universo a cada instante e prendar-nos com tal prendimento... Será que tudo isso? Ou talvez um pouco disso? Nada disso? Céus, ainda tenho muito o que aprender... Apreender... Apreender na memória!

E caso um dia eu liberte e esqueça essas dúvidas e pensamentos, será que me esquecerei de aprender? Será que continuarei buscando aprender a aprender, aprender o que é aprender, buscando apreender conhecimento, mesmo sem saber? Aprender a aprender é importante para aprender, mas de que forma pode-se aprender a aprender se não aprendendo? Só aprendendo?

Aprender a jogar é importante para aprender a aprender, mas será que posso mesmo começar a jogar sem antes aprender? A forma de aprender a aprender é aprendendo, para enfim aprender a jogar, mas e o começo, será que existe outra forma? E da mesma forma, será certo que só se aprende a jogar... Jogando? Errando, ferindo-se, machucando, levando canetas e chapeuzinhos? Será que só assim se aprende?

Quantas palavras incertas e inseguras... Quando será que aprenderei a escrever com mais certeza, mais segurança? Será que da mesma forma, praticando, sabendo, escrevendo? Será só uma questão de aprender? Um aprendizado para cada interrogação... Ah, memória... Como vou apreender tanta coisa?