Cansados, com sono, esfomeados, agoniados esperando o sino que não bate... O ponteiro lentamente anda. Agitados falam, gritam, batem nas mesas com cadernos, fazem aquela algazarra. Mas nada adianta: o relógio, sereno, com sua ternura e nobreza mantém o mesmo andamento. O mesmo que manteria caso não lhe dessem atenção, o mesmo de antes das viagens e dos encontros amorosos.
A professora, cercada d'outros alunos pacientemente tira dúvidas dos interessados, que em panelinha apresentam feições de preocupação e confusão enquanto dividem seus olhares na matéria e nos ponteiros do relógio, torcendo para que consigam entender o conteúdo antes que o sinal bata; temendo que o tempo passe rápido demais. Concentrados, esquecem toda a situação que os rodeiam.
O que mais se ouve falar é: "Que horas são?" Vem de todos os lados da sala, em diversas vozes, timbres e tons. Os que têm relógio em silêncio verificam a hora a cada minuto, como se fosse obrigação. Passam-se alguns minutos e as reclamações só tendem a aumentar: É fome, sono, cólica, dor de cabeça, cansaço, espinha, professor chato e qualquer outro motivo de reclamação que possa ser lembrado e claro, falado naquele momento.
Materiais guardados, a sala se divide em ainda mais panelinhas: Tem os que falam de jogos, os que falam de academia, os que falam de sexo, os que falam de show, os que falam de bebida, os que falam da festa, os que falam de automóveis... E claro, mantém-se formada a panelinha dos preocupados em volta do professor, agoniados com o tempo, fazendo anotações como se lhes fossem cortar aos mãos ao bater do sino. A inspetora no pátio tranquilamente bebe café e conversa com as tias da limpeza, olhando atentamente para o relógio; precisa ser pontual.
O sino toca. Uma expressão de alegria surge por fração de segundo nos rostos de todos, que imediatamente disputam espaço para passar pela porta da sala, conversando altíssimo, alguns até gritando. Os que estavam com a professora guardam o material, ainda conversando com ela sobre a matéria. A competição para atravessar o portão da escola é ainda maior que a da porta, a maioria à pé, alguns de bicicleta... Do outro lado, carros, mais barulhos, muvuca e o sol quente do meio dia. A maioria das reclamações cessam e aos poucos as pessoas vão sumindo.
O capítulo se repete todos os dias, em todas as aulas e as pessoas fazem sempre as mesmas coisas, sofrem as mesmas agonias nos últimos minutos de aula... Parece ser algo que passa despercebido, simplesmente visto como normal. Mas por quê, por quê vivemos tal agonia? O sino bate, mas nada acaba: A rotina continua e tudo que está contido nesse texto e pode ser resumido na palavra "ansiedade" permanece todo santo dia útil. Mas não é possível que seja útil dar atenção para isso.
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